ou como não há dias chatos no mercado de impressão 3D
Figura 1 - Emanuel Campos de 2014 com Terry Wohler na Inside 3D Printing Brazil 2014
Terry Wohler fundou a Wohler's Associates com a missão de ser um censo neutro no mercado de Prototipagem Rápida (assim de velho foi a fundação Wohlers, pré-Manufatura Aditiva, pré-impressão 3D). Por anos seu anuário, apesar da gritante ausência da América do Sul, foi um dos mais importantes sensores do mercado. Tive a oportunidade de contribuir como voluntário 3 vezes, graças aos generosos convites de Benevaldo Padovani e do Dr. Jorge Vicente Lopes.
Com 36 anos completos este ano, a Wohler’s Associates hoje já não é um órgão independente, não que tenha algum viés em seus dados, mas ela foi recentemente adquirida por outra agência, a American Society for Testing and Materials, ASTM para os íntimos, mais especificamente uma divisão da ASTM, a ASTM International Additive Manufacture Center of Excellence (AM CoE). A divisão da ASTM e a aquisição da Wohlers por esta divisão dão nota da importância que a Manufatura Aditiva vem adquirindo junto aos mercados gerais. Já não se trata mais de um setor de nicho, mas um campo de aplicação extenso.
Outra prova deste processo que o Fábio Sant’Ana gosta de chamar de “Consolidação” é a recente aquisição de outro grupo, a Women in 3D Printing que foi comprada mês passado pela ASME – American Society of Mechanical Engineer. O grupo Women in 3D Printing existe deste de 2014 promovendo, apoiando e inspirando mulheres a adotarem as tecnologias de manufatura aditiva, e com apenas 11 anos de vida, passa a formar parte da sociedade norte americana de engenharia mecânica. `
A aquisição, ou consolidação visa criar uma mudança importante no cenário internacional à respeito das mulheres no setor 3D. Segundo pesquisa realizada e publicada em dezembro de 2022 pelo grupo Women in 3D Printing, apenas 13% da mão de obra norte-americana para impressão 3D é formada por mulheres e, mais assustador ainda, apenas 11% das empresas do mercado de Manufatura Aditiva e Impressão 3D pertencem ou são controladas por mulheres. Isso nos Estados Unidos. A fusão com o grupo ASME, segundo o próprio site da Women in 3D Printing tem como objetivo acelerar a adoção e uso da impressão 3D entre as mulheres.
Vamos revisar o que aconteceu até aqui:
Desktop Metal, Markforged e Nano Dimension
O processo entre a Desktop Metal e a Markforged em 2025 foi, digamos... digno de um bom drama corporativo no mundo da impressão 3D. Aqui vai um resumo do enredo:
O que aconteceu
A Desktop Metal processou a Markforged por conta de uma fusão pendente entre a Markforged e a Nano Dimension, alegando que isso violava um acordo prévio entre a Desktop Metal e a própria Nano Dimension.
A fusão entre Markforged e Nano Dimension foi anunciada em setembro de 2024, com a intenção de transformar a Markforged em uma subsidiária integral da Nano.
A Desktop Metal argumentou que essa nova fusão poderia comprometer sua própria fusão com a Nano, que já estava em andamento e enfrentava atrasos regulatórios.
O conflito legal
A ação foi movida no Tribunal de Chancelaria de Delaware, e a Desktop Metal pediu uma ordem judicial para impedir a conclusão da fusão Markforged–Nano até que sua própria fusão fosse finalizada.
A Markforged, por sua vez, declarou que as alegações eram infundadas e que pretendia se defender vigorosamente.
Contexto estratégico
A Desktop Metal estava enfrentando dificuldades financeiras e via a fusão com a Nano como uma “última chance” para se manter competitiva.
A Nano Dimension, por outro lado, parecia estar em posição de força, com boa liquidez e capacidade de investimento.
Esse imbróglio jurídico mostra como o setor de manufatura aditiva está em plena transformação, com empresas disputando alianças estratégicas para sobreviver e crescer. Se quiser, posso te mostrar como isso pode impactar o mercado ou te atualizar quando o veredito sair.
Nexa3D
A Nexa3D está passando por um momento delicado e de transição estratégica em 2025. Aqui vai um panorama atualizado da situação:
Posição atual da Nexa3D
A empresa ainda é independente, ou seja, não foi adquirida por nenhuma gigante do setor, apesar de especulações sobre possíveis compras por parte da Nano Dimension, Stratasys ou Formlabs.
Em dezembro de 2024, a Nexa3D anunciou uma redução significativa de suas operações devido a pressões macroeconômicas e mudanças no mercado.
Apesar disso, a empresa não declarou falência e segue operando com foco em suporte aos clientes existentes e exploração de alternativas estratégicas.
Destaques tecnológicos
A Nexa3D continua sendo reconhecida por suas impressoras ultrarrápidas, como a XiP e XiP Pro, voltadas para aplicações industriais em setores como saúde, automotivo e bens de consumo.
A empresa mantém sua reputação de inovadora em velocidade e precisão, com resinas avançadas como xPEEK, xCERAMIC e xMOLD.
Perspectivas futuras
O futuro da Nexa3D ainda está em aberto: ela pode buscar parcerias, fusões ou venda de ativos para continuar sua missão de acelerar a manufatura aditiva.
O CEO, Avi Reichental, afirmou estar comprometido com a continuidade da inovação, mesmo que sob uma nova estrutura organizacional.
Forward AM adquirida* pela Stratasys
A relação entre Stratasys e Forward AM se tornou bem mais profunda recentemente. Em maio de 2025, a Stratasys adquiriu os ativos e operações principais da Forward AM, que era anteriormente a divisão de manufatura aditiva da BASF.
O que mudou com a aquisição
A Forward AM agora opera como uma empresa independente dentro da Stratasys, sob o novo nome Mass Additive Manufacturing GmbH.
Apesar da aquisição, a marca Forward AM continua ativa e mantém sua identidade e compromisso com a confidencialidade dos clientes.
Por que isso importa
A aquisição fortalece o portfólio de materiais da Stratasys, especialmente em tecnologias como SAF (Selective Absorption Fusion) e DLP (Digital Light Processing).
A Forward AM traz consigo materiais amplamente utilizados, como os filamentos Ultrafuse, incluindo versões metálicas para FDM industrial.
O que esperar
A nova estrutura promete mais inovação, agilidade e alcance global, com a Stratasys apoiando o crescimento da Mass Additive Manufacturing como fornecedora de materiais para todo o ecossistema de impressão 3D — inclusive para concorrentes da própria Stratasys.
Stratasys vs Bambu Labs
Como tudo começou
Em agosto de 2024, a Stratasys entrou com duas ações judiciais por infração de patente contra a Bambu Lab nos EUA, alegando que diversos modelos da empresa chinesa — como X1C, X1E, P1S, P1P, A1 e A1 Mini — violavam 10 patentes da Stratasys relacionadas a:
Plataformas aquecidas
Torres de purga (purge towers)
Detecção de força no cabeçote de impressão
A ação foi movida inicialmente no Distrito Leste do Texas, mas a Bambu Lab contestou a jurisdição, alegando que sua subsidiária americana (Bambu Lab USA) não operava naquela região. Com isso, o caso foi parcialmente transferido para o Distrito Oeste do Texas, onde a subsidiária foi formalmente incluída.
Situação atual (julho de 2025)
A Stratasys retirou duas empresas chinesas do processo (Tiertime e Yinhua Laser), que haviam sido incluídas inicialmente sem relação clara com a Bambu Lab.
O processo principal segue ativo, com a Stratasys buscando:
Indenização financeira
Proibição da venda dos modelos acusados nos EUA
Reconhecimento formal da infração de patentes
A Bambu Lab, por sua vez, nega as acusações e tenta invalidar as patentes envolvidas, argumentando que são tecnologias amplamente utilizadas e que a Stratasys estaria tentando limitar a concorrência no mercado de impressoras desktop.
Impacto potencial
Se a Stratasys vencer, isso pode abrir precedentes para ações contra outros fabricantes de impressoras 3D de baixo custo. Por outro lado, se a Bambu Lab se defender com sucesso, pode enfraquecer o poder de patente da Stratasys sobre tecnologias comuns no setor.
Stratasys e cortes no setor de pesquisa e desenvolvimento
Não é verdade que a Stratasys demitiu todo o seu time de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) ou que tenha declarado oficialmente que pretende operar apenas por meio de aquisições.
O que sabemos até agora
A Stratasys continua investindo em inovação interna, como mostra a criação recente do North American Tooling Center of Excellence, em parceria com a Automation Intelligence, focado em manufatura aditiva para ferramentas industriais.
A empresa também divulgou resultados financeiros do primeiro trimestre de 2025 e não mencionou cortes em massa no setor de P&D.
Embora tenha feito aquisições estratégicas importantes — como a da Forward AM —, isso faz parte de uma estratégia híbrida, combinando inovação interna com crescimento via aquisições.
Sobre demissões
Não há registros públicos ou comunicados oficiais indicando demissões em massa especificamente no setor de P&D da Stratasys em 2025.
A empresa, como outras do setor, pode ter feito ajustes pontuais em sua estrutura, mas nada que indique o abandono da pesquisa própria.
Ou seja, a Stratasys segue apostando em desenvolvimento tecnológico próprio, ao mesmo tempo em que expande sua presença global por meio de aquisições estratégicas.
Bambu Lab vs Creality
A ascensão meteórica da Bambu Lab definitivamente teve impacto sobre a Creality, mas em vez de recuar, a Creality respondeu com força e inovação. Aqui vai um panorama do que está rolando:
Rivalidade direta no mercado multicolorido
A Bambu Lab A1 Combo virou referência em impressão 3D multicolorida com seu sistema AMS Lite e interface plug-and-play.
Em resposta, a Creality lançou a Hi Combo no início de 2025, apresentada na CES, com:
Suporte para até 16 cores
Velocidade de até 500 mm/s
Volume de impressão maior (260 × 260 × 300 mm)
Preço competitivo: cerca de US$ 469, abaixo da A1 Combo.
Estratégia da Creality: manter a base maker e conquistar novos públicos
A Creality continua apostando em variedade e modularidade, com modelos como Ender 3 V3, K2plus e agora a linha Hi, que busca unir velocidade, acessibilidade e personalização.
A empresa também tem investido em facilidade de uso, com auto-nivelamento, câmeras integradas e conectividade Wi-Fi — áreas onde antes perdia para a Bambu Lab.
Impacto no posicionamento de marca
A Bambu Lab conquistou o público com uma abordagem mais “Apple-like”: design fechado, experiência fluida e integração total.
A Creality, por outro lado, reforçou sua identidade como marca aberta, acessível e altamente modificável, mantendo forte apoio da comunidade maker.
E o futuro?
A competição entre as duas está elevando o padrão do mercado de impressoras desktop. A Creality não foi “engolida” pela Bambu Lab — ao contrário, está se reinventando e brigando de igual para igual no segmento de entrada e intermediário.
Em resumo…
Rapaz, dia 2 de julho é o meio exato do ano. Antes do dia 2 de julho, temos 182 dias. Depois de 2 de julho restam 182 dias. Dia 2 de julho ao meio dia, é o mais meio do ano que você consegue chegar do meio exato, temporal, de um ano. E rapaz, que primeiro semestre.
Falamos hoje das empresas e suas compras, vendas e trocas, mas há muito rolando em materiais, processos, e muita coisa acontecendo no mercado brasileiro também.